Narra uma lenda “Inche” hindu que Deus fez uma mistura de tudo que existe de melhor, e moldou o Ser Feminino. Assim, nasceu a mulher com a sua graciosa presença, bela, forte, sedutora, atenta e com a capacidade de se voltar de imediato para o Bem. Deus a admirou muito e a ofereceu de presente ao homem para que ele convivesse com esta obra-prima.
Sete dias depois, um tanto confuso, o homem procurou Deus e lhe disse: “Senhor, a criatura que me deste envenena a minha vida, toma conta de todos os tecidos do meu corpo e de minha alma. Enfeitiça-me com seus encantos; fala sem cessar, às vezes se lamenta, chora e ri ao mesmo tempo; está sempre sendo uma provocação para mim; viver ao lado dela é não ter um só instante de solidão e sossego. Suplico-te, Senhor, aceita-a de volta. Não posso viver com ela!”
E Deus recebeu de volta a mulher. Passados sete dias, o homem voltou a procurar Deus e disse: “Senhor, minha vida é a mais completa solidão desde que devolvi a mulher. Ela cantava, dançava na minha frente. Ela brincava comigo e dava o sol de seu sorriso. E não há fruto mais delicioso que se compare às suas carícias. Peço-te que a devolvas para mim. Não posso viver sem ela!” E Deus devolveu-lhe a mulher.
Passaram-se mais sete dias; e lá voltou o homem dizendo: “Senhor, fica com ela. Não dá mais! Ela me causa mais aborrecimentos que alegria. Não quero mais!” E Deus disse: “Homem, vai para casa com tua Mulher! Aprende a conviver com ela! Se eu aceitá-la de volta, daqui a sete dias virás de novo pedi-la!” E o homem se retirou pensando: “Como a minha vida é estranha e intensa! Não posso viver com ela, mas não posso viver sem ela!”
O feminino moldado por Deus é contínuo movimento de transformação. É serenidade na agressividade, é transcendência na imanência, é a clareza que sabe distinguir a capacidade de ordenar o caos e criar um futuro baseado em sonhos. É o repouso após a batalha, o mistério que desafia a curiosidade, uma permanente saudade do que ainda não somos e deveríamos ser.
O feminino moldado por Deus é fonte original da vida que emerge já evoluída no colo da ternura. É a plenitude vital, o poder do amor que sabe organizar, a dominação sem opressão. É a constante tarefa de cada ser humano, no horizonte da sua condição biológica, de integrar esta raiz sagrada em seu projeto de Ser. Nem sempre esta é uma tarefa fácil. O processo de conquista do humano pleno implica o natural e o obscuro, o passional e o objetivo, o misterioso e o racional. Pegar ou largar? Devolver ou assumir?
A questão é bem maior. É integrar! Deus deu uma obra-prima como presente. É a pérola preciosa da existência. Uma pérola não se come, mas contempla-se.
Contemplar é trazer para a moradia do templo, isto é, transformar o relacional num espaço sagrado. Nós somos o que colocamos no espaço da interioridade. Cada pessoa é chamada a realizar a sua humanidade masculina e feminina do melhor modo possível. Não posso viver sem esta verdade!
Ao visitar uma galeria de arte e se deparar com a grandeza de tanta obra; no ficar estático e embevecido diante de uma obra-prima, pergunta-se: quem é o autor? Ver bem uma obra é ver bem o criador. Toda inspiração é sagrada, por isso não posso viver sem ela.
Vitório Mazzuco
nossa! que belissimo texto!!!!!!! é ter a alma muito delicada esse seu amigo.
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